Médio Juruá encanta chefs de cozinha de todo o Brasil
Setembro, 2022 - Para chegar à comunidade de São Raimundo, na Reserva Extrativista (Resex) do Médio Juruá, no Estado do Amazonas, são necessárias pelo menos 7 horas de barco a partir da sede do município de Carauari. Chefs, representantes de restaurantes, distribuidores, lideranças comunitárias, jornalistas, financiadores e membros de organizações governamentais e não-governamentais, além da equipe da USAID/Brasil, fizeram essa viagem para conhecer o manejo sustentável do pirarucu selvagem.
“A expedição é uma oportunidade ímpar. A comunidade conhece os parceiros, que, por outro lado, podem ver a beleza do manejo. Nossos apoiadores também têm oportunidade de vivenciar a comunidade e conhecer de perto as etapas do manejo comunitário. Tenho certeza de que ao conhecer a história e todo o processo aumenta a possibilidade de engajamento para que essa atividade cresça ainda mais”, comentou Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes.
A viagem foi a segunda expedição organizada pela marca coletiva Gosto da Amazônia, do Coletivo do Pirarucu, que tem como o objetivo aumentar a comercialização do peixe de forma justa e sustentável para as comunidades locais, garantindo a conservação da biodiversidade da Amazônia. A iniciativa é apoiada pela USAID/Brasil por meio do projeto Cadeias de Valor Sustentável, implementado pelo IEB, com assistência técnica do Serviço Florestal dos Estados Unidos e participação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“É importante para a USAID trabalhar com uma comunidade como essa por vários motivos. A população que vive no meio da floresta amazônica tem que ter uma vida de dignidade, uma renda razoável e um futuro próspero, mas também tem uma história importante de como viver no bioma. Eles sabem como aproveitar e respeitar a floresta onde moram”, disse Catherine Hamlin, diretora do Programa de Meio Ambiente da USAID/Brasil.
Importância do manejo - O manejo do pirarucu é uma importante fonte de renda para as comunidades do Médio Juruá. A venda do peixe ajuda a complementar o orçamento de outras atividades extrativistas, como a extração da borracha das seringueiras e a venda de sementes. Além disso, fortalece a organização comunitária e ajuda a manter a segurança do território – uma vez que as atividades de monitoramento exigem que os lagos onde o pirarucu se reproduz sejam visitados com frequência ao longo do ano.
O pirarucu selvagem, maior peixe de água doce com escamas do mundo, é um dos principais símbolos da Amazônia e quase desapareceu na região por causa da pesca predatória. Graças ao manejo comunitário, iniciado há mais de 20 anos por ribeirinhos e indígenas, também passou a simbolizar uma das iniciativas bem-sucedidas de conservação da biodiversidade e de geração de renda para as populações locais.
“A gente não preserva só porque dá dinheiro, mas porque é a nossa base. O dinheiro é uma consequência positiva dessa atividade. A gente que vive na e da floresta sabe que não se faz tudo isso pelo dinheiro, mas pela conservação do lugar em que moramos”, explica Quilvilene Cunha, tesoureira da Associação das Mulheres Agroextrativistas do Médio Juruá (ASMAMJ).
Segundo Quilvilene, receber os visitantes foi importante para mostrar a realidade de quem mora na Amazônia. “Está sendo um prazer enorme para a comunidade receber essas pessoas, é gratificante. Elas vivem em outra realidade, mas se interessaram por conhecer a nossa vida e os desafios que temos na cadeia do pirarucu, além de ouvir sobre o processo histórico de organização e proteção que temos aqui.”
Durante a viagem de barco também foram realizadas rodas de conversa e apresentações para contextualizar a importância do manejo – e após a visita à São Raimundo – para discutir próximos passos e ideias para a cadeia do pirarucu.
Entre as propostas surgiram a ideia de treinar equipes dos restaurantes para que possam entender a importância do produto, a de criar materiais para os consumidores e outras estratégias de promoção. Alguns dos chefs também vão desenvolver novos pratos com pirarucu para incluir em seus menus permanentes.
“Precisamos cada vez mais valorizar o pescado e os insumos nacionais. Temos muita coisa boa, e o pirarucu é uma delas. Essa oportunidade está sendo única – vir, conhecer, aprender como é cuidado, como é tratado o pescado para em breve colocar no meu restaurante. Acho que é uma vivência sensacional. Conhecer de fato como é produzido, vivenciar isso junto com as pessoas que cuidam do pescado e de toda a linha de produção, isso vai ficar na memória para sempre. Com certeza, vou multiplicar esse aprendizado com meu time”, comentou Daiti Ieda, chef do Restaurante Gurumê, no Rio de Janeiro.
Para Fabiana Pinheiro, do restaurante Sallva, de Brasília, a viagem ajudou a entender melhor como funciona a cadeia e reforçar o compromisso com produtos sustentáveis: “Superou muito as minhas expectativas. Ficamos o tempo todo focados no tema da biodiversidade, da preservação, do pirarucu e como esse alimento está sendo respeitado e manejado para beneficiar toda uma cadeia produtiva. É uma troca de experiências e conhecimentos, que vai agregar não só para a minha vida como cozinheira, mas também no meu do dia a dia. Você decidir que cada fornecedor que vai trabalhar no restaurante pode ter um impacto social, ambiental, precisa pensar antes.”
Experiência anterior - A primeira viagem do Gosto da Amazônia foi realizada em 2019, e levou nove chefs do Rio de Janeiro para conhecer o manejo comunitário realizado pelo povo indígena Paumari (saiba mais aqui).
Acompanhe o “Diário de Bordo” da Expedição Médio Juruá no Instagram do Gosto da Amazônia.