Seminário reúne atores do projeto de Monitoramento Participativo da Biodiversidade

“Eu já nasci monitor. Porque eu descobri que meu bisavô, meu avô e meu pai eram monitores. Hoje nós temos a mesma seringueira de quase 200 anos que o meu bisavô cortou”, conta Raimundo Nonato, da Reserva Extrativista Cazumbá- Iracema, que foi um dos palestrantes do II Seminário de Construção Coletiva de Aprendizados e Conhecimentos. O evento, que reuniu cerca de 100 pessoas entre os dias 4 e 6 de junho em Brasília, avaliou o projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade (MPB). A iniciativa, apoiada pela PCAB, também faz parte do Monitora – programa de monitoramento da biodiversidade do ICMBio.

O objetivo do encontro foi promover e fortalecer a comunicação entre os diferentes atores envolvidos no monitoramento da biodiversidade, para identificar melhores práticas e ampliar a apropriação dos resultados e processos do Monitora por outras áreas do ICMBio, por comunidades e parceiros.

“Também priorizamos muito a participação de monitores neste segundo seminário, e esse  intercâmbio entre eles é muito importante. Estamos conseguindo construir com vários olhares, a várias mãos, como devolver essa informação do monitoramento de forma que ela seja útil. Para que seja voltada para a tomada de decisão para conservação, para a gestão, para o uso dos recursos naturais”, explicou Cristina Tófoli, coordenadora do projeto pelo IPÊ – uma das instituições implementadoras da PCAB.  “Queremos sair daqui com diretrizes para como fazer isso”, concluiu.

 

No primeiro dia, foi feita uma avaliação geral do programa. Os participantes discutiram os encontros dos saberes – eventos para a discussão dos dados com as comunidades – realizados entre novembro de 2018 e maio de 2019. Houve elogios, mas também a indicação de pontos a serem melhorados, como materiais utilizados e o tempo de preparação da comunidade.

O foco do segundo dia foi a integração do monitoramento com outras áreas do ICMBio – a exemplo da relevância da atividade para a gestão das cadeias de valor e também do uso público. “O monitoramento é para se saber se o que estamos fazendo está dando certo, então é do interesse de todos. O que precisamos é entender melhor as demandas das outras áreas,” explicou a Coordenadora Geral de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio, Katia Torres Ribeiro.

Durante a ocasião, também foi lançada a segunda edição do livro “Monitoramento Participativo da Biodiversidade: Aprendizados em Evolução”, editado pelo IPÊ e que reúne as experiências do MPB entre 2013 e 2017.

 

Papel Central dos Monitores

O restante do seminário foi focado nas experiências dos monitores, que puderam compartilhar suas histórias e debater formas de aprimorar o projeto. No programa do IPÊ, os monitores são moradores de Unidades de Conservação ou das comunidades do entorno. 

“Vocês não têm ideia de como é importante para a comunidade fazer o monitoramento”, ressaltou Manuel Cunha, gestor e morador da Reserva Extrativista do Médio Juruá. Ele contou que para as comunidades é fundamental participar da gestão e do monitoramento de suas regiões – não só para preservar, mas também para entender melhor o comportamento da floresta. Ele lembrou de um ano em que o pirarucu, peixe abundante na sua região, não se reproduziu em grande quantidade. “Nós sabíamos que tinha pouco filhote porque eles não tinham reproduzido, mas precisávamos da ajuda dos pesquisadores para descobrir porque ‘as desgraças’ não quiseram namorar naquele ano”, brincou.

Os monitores de outras Unidades de Conservação concordam. Raimunda Soares é a única monitora mulher de sua comunidade na Resex do Tapajós Arapiuns. Ela teve que enfrentar o preconceito de ir para a mata com os outros monitores, mas se sente realizada: “Ser monitor é conhecer o que existe onde nós moramos, na floresta. Eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo. Eu nunca pensei que fosse ser tão importante para mim. Eu descobri o valor que eu tenho”.

Cléa dos Santos, da comunidade de Último Quilombo, na Reserva Biológica Trombetas, também destacou a importância da troca com pesquisadores e técnicos: “Nós sabíamos pouco, mas quando chega alguém que nos dá mais ensinamentos, e juntamos com aquilo que nós já temos, gente, o nosso sorriso vai lá na orelha. Gostamos de ser valorizados. Quem é que não gosta? O monitoramento é importante para comunidade. Não é dizer “ah o pesquisador chegou - porque ele vai embora uma hora. Quem vai ficar ali somos nós”.