Trocando experiências sobre voluntariado e gestão compartilhada

Mais de 2 mil voluntários trabalharam em 2017 nas 142 Unidades de Conservação administradas pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). O Programa de Voluntariado nos parques, florestas e reservas nacionais começou em 2009 e cobre hoje 42% dos Parques, Reservas e Florestas nacionais. Na Amazônia, o programa está em funcionamento em 30 UCs, espalhadas por cinco estados: Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Acre.

Para aprender com a experiência do Serviço Florestal dos Estados Unidos, que conta com um exército de 2,8 milhões de voluntários que, desde 1972 já doaram 123 milhões de horas avaliadas em US$ 1,4 bilhão, técnicos do ICMBio foram convidados para visitas técnicas em Parques nos EUA e receberam em dezembro o Gerente de Programas para Vida Selvagem e Rios Cênicos da Região Norte do Serviço Florestal dos EUA (USFS), Jimmy Gaudry e Jennifer Tripp, ainda como Vice-Diretora de Operação de Trilhas da OnG norte-americana, Pacific Crest Trail Association. Este mês, Tripp passou a dirigir a organização, que é responsável pela manutenção, divulgação e preservação da Pacific Crest Trail – uma trilha que atravessa o Oeste dos Estados Unidos do México ao Canadá, tem mais de 4 mil km, pode ser explorada a pé ou a cavalo e atravessa Reservas Indígenas, Parques Nacionais e Estaduais, e conta com milhares de voluntários para sua manutenção. Os intercâmbios foram patrocinados por projetos do PCBA.

Em um intervalo do Seminário de Boas Práticas para Gestão de Unidades de Conservação, promovido pelo ICMBio, no qual Gaudry e Tripp participaram ativamente, os dois conversaram com o Informativo PCAB:

PCBA: Como funciona esta parceria que divide a administração de terras públicas entre um órgão público e uma organização da sociedade civil?

Jimmy Gaudry: O Serviço Florestal dos EUA engaja voluntários e parceiros com muita regularidade para nos ajudar a administrar e gerir uma grande quantidade de recursos. Tudo, de oportunidades para monitoramento a pesquisas. Valorizamos isto, não só porque nos ajuda a realizar o trabalho, mas porque ele conecta a comunidade ao meio ambiente que pertence a ela. E também amplia uma comunidade de apoio na população: apoio para terras públicas, apoio para as agências (do governo) e apoio para o trabalho que fazemos. É como operamos hoje em dia: através de parcerias e voluntários.

Jennifer Tripp: Da perspectiva do parceiro, é muito importante que nossos voluntários frequentem e se incluam nas terras públicas. Nem todas as agências e parceiros ficam tão animados em ter voluntários que vão a campo e são capazes de mostrar que podemos ajudá-los a atingir suas metas e objetivos. Há um ganho de valor em ter voluntários nos projetos. As organizações estão mais e mais interessadas em ter voluntários. À medida em que os recursos vão ficando mais escassos, é bem importante ter voluntários ajudando de todas as formas possíveis. Não apenas os considerando como mão-de-obra nas trilhas, mas também para outras competências, como comunicação.

A sociedade civil norte-americana tem direito a participar de decisões de gestão de parques e trilhas. Como isto se dá?

Gaudry: Temos a Lei de Política Nacional de Meio Ambiente (NEPA), que determina que engajemos o público sempre que tivermos que tomar qualquer decisão de gestão. Pela lei fazemos isto, mas através das parcerias promovemos um engajamento em vários níveis diferentes. Não é só uma questão de seguir um processo para envolver a sociedade e ter uma contribuição. Mas de conectar com outra organização que compartilhe dos nossos valores, tenha a mesma missão e o desejo de ter o melhor resultado para quaisquer que sejam os recursos. Neste caso, estamos falando de trilhas de longa distância. Então eles estão ocupando um lugar na mesa, nos auxiliando a desenvolver e a ampliar a gestão futura destas áreas não só no contexto da NEPA, mas nas decisões do dia-a-dia e no processo de engajamento.

Tripp: Particularmente no caso do Sistema Nacional de Trilhas, um Ato do Congresso estipula que os parceiros devem ser envolvidos ao máximo na gestão, desenvolvimento e manutenção de trilhas de longa distância – o que é bem único desta lei: convocar parceiros e voluntários a tomar um lugar na mesa de negociação com as agências. Nem tudo o que o Serviço Florestal dos Estados Unidos faz, traz esta linguagem forte convocando o órgão a envolver os parceiros. Esta é uma peça única de legislação nos Estados Unidos.

Vocês poderiam dar um exemplo prático de como isto se dá?

Tripp: As pessoas gostam de acampar ao longo da trilha às vezes em lugares não muito apropriados. Muito perto da água ou em superfícies não muito firmes. E agora elas estão encontrando estes lugares em aplicativos que sugerem boas localizações para acampar. A minha organização e nossos voluntários estão encontrando os locais nos aplicativos, indo até lá e avaliando se são ou não bons locais para acampamento. Se não forem, eles discutem o assunto com o Serviço Florestal e procuram os desenvolvedores dos aplicativos para pedir para retirarem aquela localidade de suas indicações e impedir que as pessoas vão até lá e prejudiquem aquela área. Fazemos isto em parceria com o Serviço Florestal.

Gaudry: Este é um bom exemplo, porque não é só um órgão da burocracia dizendo: Olha, isto é um problema e temos que lidar com ele. É uma voz do público afirmando: “Achamos que há um problema e temos que resolvê-lo. Isto facilita o nosso trabalho.  

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Clique aqui para ler as 5 lições sobre parcerias de sucesso tiradas do Seminário: